O que causa a subida acelerada do dólar ocorrida nas últimas semanas? Em questão de dias, a moeda norte-americana, que girava na casa de R$ 4, bateu os R$ 5,80. Sem precedentes, a alta da moeda foi uma reação não apenas à presença do novo coronavírus. A pandemia da Covid-19 mexeu, sim, com o mercado brasileiro. Mas, para o colunista do Guia Brasil América (GBA), Adilson Goes, esta não foi a única causa para os recordes.
As crises políticas do executivo federal, como o pedido de demissão surpresa de Sergio Moro, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, alegando interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal (PF), influenciam diretamente no desequilíbrio na cotação do dólar em relação ao real, assegura Goes em seu quadro diário de dicas de investimentos no IGTV do Instagram do GBA.
Para apurar as denúncias feitas por Moro, foi aberta uma investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR). O relator do caso, ministro Celso de Mello, recebeu, na íntegra, da Advocacia Geral da União (AGU), o vídeo de uma reunião ministerial de 22 de abril, em que Bolsonaro supostamente teria exigido mudanças na PF e ameaçado demitir o agora ex-ministro Moro.
O material, entregue à PF ontem, foi exibido, nesta terça-feira, 12, no Instituto de Criminalística do órgão, em Brasília. A fim de acompanhar a exibição, além de Moro, que depôs em 2 de maio, e sua defesa, estiveram presentes na PF: três procuradores da PGR, representantes da AGU e um juiz do gabinete do relator do caso.
Outros depoimentos serão colhidos nesta semana. A exibição do vídeo servirá justamente para orientar, no que diz respeito ao inquérito, as perguntas a serem feitas pelos investigadores nestes depoimentos. Até o momento, a investigação segue em sigilo.
Essa agitação nos bastidores da política não agrada aos investidores. Em razão disso, o dólar comercial registrou seu segundo maior valor de fechamento nominal, desconsiderando a inflação, desde a criação do Plano Real, sendo vendido a R$ 5,824. A maior alta havia sido na quinta-feira, 8, quando atingiu R$ 5,84.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, a B3, teve queda de 1,49%, registrando 79.064,60 pontos. Só em 2020, a desvalorização é de 31,63%. O cenário pode ganhar mais um agravante: uma possível crise diplomática com a China, adianta Goes.
“A reunião citada por Moro pode trazer uma crise diplomática para o Brasil, pois, além de uma suposta alegação de que a China seria culpada pela pandemia, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, teria apelidado a doença de ‘comunavírus’. Se esse vídeo vier a público, e deve vir, com esta fala do chanceler, trará uma dificuldade diplomática. Então, mais uma vez, B3 negativa e dólar em alta por problemas políticos”, ressalta Adilson Goes, que também é CEO da Fair USA Corretora.