Os bancos multinacionais JPMorgan, HSBC, Standard Chartered Bank, Bank of New York Mellon e Deutsche Bank estão no centro de um colossal escândalo de lavagem de dinheiro. O suposto crime cometido pelos bancos, que movimentaram mais de dois trilhões de dólares ao longo de quase duas décadas, está presente nos 2.100 relatórios enviados por bancos e empresas envolvidas no esquema para a Rede de Execução de Crimes Financeiros do Departamento do Tesouro (FinCEN) dos Estados Unidos (EUA).
O FinCEN, departamento norte-americano que, dentre outras atividades, coleta e analisa informações sobre transações financeiras, a fim de combater a lavagem de dinheiro nacional e internacional, recebeu mais de 12 milhões de outros relatórios de atividades suspeitas protocolados, entre 2011 e 2017, pelas instituições financeiras e seus organismos de controle. Os FinCEN Files, alcunha dada para os documentos vazados, representam menos de 0,02% dos relatórios encaminhados às autoridades.
Estes mesmos organismos de auditoria financeira dos bancos sinalizaram as operações como suspeitas, tanto de lavagem de dinheiro como provenientes de outras atividades criminosas. Assim, mesmo que reflitam a apreensão dos auditores e que essa atitude não seja comprobatória de conduta criminosa, os documentos demonstram que, após punições das autoridades dos EUA a respeito das falhas de contenção das suspeitas movimentações dos recursos, os bancos continuaram lucrando altas cifras com as práticas citadas.
O acesso aos sigilosos documentos no FinCEN Files foi obtido pelo site BuzzFeed News, que os compartilhou com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Esta, que é a maior rede de colaboração de jornalistas investigativos do mundo. Para esta megarreportagem, o ICIJ conectou 400 jornalistas de 110 veículos em 88 países para investigação dos registros sobre as suspeitas em operações financeiras. Estiveram na investigação, pelo Brasil, Época, a revista piauí e o site Poder360.
O ICIJ já participou, inclusive, de reportagens como o Panamá Papers – um conluio de 11,5 milhões de documentos sigilosos de autoria da sociedade de advogados panamenha, o Mossack Fonseca, que fornece informações detalhadas de mais de 200 mil empresas de paraísos fiscais offshore, incluindo chefes de Estado, como Vladimir Putin, artistas, como Jackie Chan, e personalidades do esporte, como Michel Platini.
Ao BuzzFeed News, o FinCEN diz não comentar sobre a “existência ou inexistência” de relatórios de atividades suspeitas específicas. Nos dias anteriores à divulgação da investigação pelo ICIJ e por seus parceiros, o FinCEN fez anúncio que estava buscando maneiras de melhorar o sistema antilavagem de dinheiro dos EUA.
O Departamento de Justiça dos EUA também não quis responder perguntas diretas, mas se pronunciou por comunicado. “O Departamento de Justiça defende seu trabalho e continua comprometido a investigar e processar crimes financeiros de forma agressiva – incluindo lavagem de dinheiro — onde quer que os encontremos”, afirmou, em nota, um porta-voz da divisão criminal do departamento.
O Caso JPMorgan
Os FinCEN Files ainda expõem que o maior banco dos EUA, JPMorgan, movimentou mais de US$ 1 bilhão para que o financista fugitivo Low Taek Jho, responsável pelo maior escândalo da empresa de desenvolvimento estratégico da Malásia, a estatal 1MDB. A empresa é acusada por suas transações suspeitas em dinheiro e evidências que apontam para lavagem de dinheiro, fraude e roubo. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ) alegou que, pelo menos, US$ 3,5 bilhões foram roubados do fundo estatal da Malásia.
À reportagem, o banco JPMorgan ressaltou que está legalmente proibido de falar sobre clientes ou até mesmo sobre as transações. A instituição explicou que assumiu um “papel de liderança” na busca de “investigações proativas lideradas por inteligência” e no desenvolvimento de “técnicas inovadoras para ajudar a combater o crime financeiro”.